Retrato de uma noite no bar
dançava como uma cadela no cio
deu mais um gole no copo
não via a hora de se deitar
como se não fosse uma puta covarde
vendendo a boceta por uma miséria
e se joga pra dentro de um carro amarelo
o motorista oferece um baseado
contou dos tempos em que cheirava pó
sentia o cheiro de seu travesseiro
atravessando os seus neurônios
como uma faca a devorá-la
ao inspirar o gosto doce
como um porco gordo e desajeitado
ela não sabia o que era pior
mal podia abrir os olhos
e ria das armas dos tiros, do sangue
tira uma nota do bolso e cede
corre, ansiosa, pros seus lençóis
sente o seu próprio corpo feder
sente o cheiro do quarto abafado
sente toda a sujeira do mundo
como se fosse sua
e, de certa forma, é
Mármore
João e o seu grande amor
andavam por todos os lados
ainda que não pudessem
ser vistos por mais ninguém
João passava as suas tardes
escrevendo sobre a maneira
que Bianca prendia o cabelo
com um fragmento de fita
e sorria pensando em querer
e queria pensando em sorrir
a voz dela era como eco fixo
em sua mente fantasiosa
até que em um dado momento
o menino esqueceu a apatia
João tinha o nada e portanto
João tinha nada a perder
assim, após três passos largos
fez com que a menina entendesse
seu sorriso de canto de boca
e Bianca o seguiu por seis dias
João e a menina Bianca
andavam por todos os lados
e agora podiam ser vistos
pelo mundo inteirinho e até mais
mas a surpresa bateu na porta
e Bianca parou de repente
de exercer qualquer tipo de ação
João ainda muito insistia
e assistia cada pedaço
da menina desaparecer
João nunca sentiu tanto frio
sem lençol, se cobria de olhares
seis dias e seis mil palavras
embalavam João pra dormir
Bianca e o seu grande amor
andavam por todos os lados
Bianca se livrou da fita
e José tinha os olhos brilhando
duas almas reluzentes
entrelaçadas no espaço
João e o grande amor de outro
andavam por todos os lados
ainda que apenas dormisse
ainda que a febre vencesse
ainda que não pudessem
ser vistos por mais ninguém.
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