sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

invasão

ela chegou
e o meu pé parou de tremer
não ardia, não queimava
mas ela disse "obrigada"
e a porta do taxi fechou
e o vento infestava os pulmões
de agonias de dias e nãos
e o celular que parou
e ela se foi se não foi

devir pós-moderno

tatuar é ser pintada de alguém que você já foi

nuvem

foi muita porrada e um pouco de sangue
enquanto eles gritavam "gorda"
com o tênis sujo de terra
quase dentro da sua boca

que tipo de pai vê a própria filha
sangrando
e se cala?
"dá ou não dá o remédio?"

e ganhou a tal magreza
e as congratulações

(as pessoas olhavam pra ela
agora
como desejável
ou, pelo menos,
algo que a gente não cospe em cima
antes de passar o pau.)

e então veio a insônia
e as crises extremas de raiva

agora a roupa cabia
e centenas de olhares fúteis
e a tendência a tremer sozinha
no meio da madrugada
enjoada de tanto chorar
por se odiar
magra