sábado, 25 de julho de 2015

12h-12h

o buraco me engole
mas eu subo e a calma vem
reluzente como quem levita
e a corda
bamba
rasga
grita
e se pendura em mim
e me implora
por uma abertura
pra passar devagarinho

o sangue suja a manga da roupa
e a boca mastiga pedaços de asfalto
como um tolo na colina, no alto
gritando um silêncio profundo
como um alce fugindo do abismo
procurando um pedaço de mundo

quinta-feira, 23 de julho de 2015

pote de mel

de noite eu ligo o abajur
e o seu aroma invade a sala
o silêncio dá gargalhada
quando a trama vira plano de fundo
e a ausência
do seu ranger de dentes
deixa todo o quarto imundo

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Ponto e vírgula

preciso de alguém pra engolir
as palavras que derramam
e escorrem apertadas
e não saram

melancolicamente as letras
tocam o chão
e sujam e molham
e não há alma viva
que fique de olhos abertos

sábado, 6 de junho de 2015

Dia

os nós dos dedos dela
entrelaçados ao que se esvai

ele ama e nem sabe a razão
ama a ilusão do egoísmo infundado

fecham os olhos e brincam de gatos
ela usa as garras, ele ronrona

aquecidos pela névoa cinzenta
de um breve e faminto luar

terça-feira, 19 de maio de 2015

Escolhas

ela me perdoou
e eu contei pro jornaleiro
saí dançando pela rua
cantei em volta do poste
e liguei
um toque dois toques três
engolido pelo silêncio
da cortina do chuveiro
em volta do seu pescoço
e a culpa e os planos e
ela me perdoou
e eu gritei com o jornaleiro
saí sangrando pela rua
enterrei a cara no poste
ela me perdoou
e não tem espelho que mostre

Telhado

acordou e viu tudo embaçado
deitado no chão duro
sem ninguém em volta
a vida toda torta
e começa a humilhação
em cada ligação
reside a rejeição
"hoje não dá não"
e o pequeno lá
agonizando no chão

193

o menino joga bola
e transpira morro
e sua e sobe
e não tem grade
pra se esconder dos perigos
o pai por um fio e ele não dorme
escuta
fecha os olhos
e paira
com frio embaixo do lençol

O Antes

é amor
eu deixo ela tonta
visito outras pernas
mas volto pra casa
a vista amassada
a visita amarrada
gritando o meu nome
e eu sem sentir nada

Criador

ele se monta
em bloquinhos e engrenagens
é forte no seu forte
e é levado

ele desmonta
o vento passa e não sobra
caco